sábado, 2 de março de 2013

POVOAMENTO DE TANQUES

 

 http://criareplantar.com.br/aquicultura/lerTexto.php?categoria=52&id=146

Povoamento dos tanques

Dentre as muitas espécies existentes, na hora de se escolher que peixe criar alguns fatores como sistema de criação e região da piscicultura devem ser levados em conta. Deve-se fazer uma análise biológica e outra econômica antes de se iniciar um projeto novo. Destacamos mais alguns aspectos que devem ser considerados na escolha da espécie a ser criada:
A espécie deve ser facilmente propagáveis, natural ou artificialmente, isto é, poder produzir anualmente um grande número de alevinos.
A espécie deve tolerar as condições máximas e mínimas do ambiente;
A espécie deve ser de crescimento rápido e ter auto poder de conversão alimentar;
Os alevinos devem estar disponíveis o ano todo, ou na maior parte do ano, com garantia de entrega de no mínimo para os próximos 5 anos;
O alimento requerido deve estar disponível com custo compatível ao do empreendimento;
A espécie deve ter aceitação no mercado com preço competitivo;
Deve ser uma espécie com resistência ao manejo de rotina e a enfermidades mais comuns;

Espécies cultivadas

Carpas (Ciprynos carpia)

As mais cultivadas são as húngaras, que são espécies melhoradas das Carpas escama e espelho. Destacam-se as chinesas: Capim, Prateada e a Cabeça grande.

É peixe de fundo (exceto as chinesas) e de águas lenticas. Sua maturidade sexual se dá entre 8 e 12 meses. Seu ganho de peso está em torno de 1 a 1,2 Kg/ano.

São os peixes que melhor toleram as diferentes amplitudes climáticas, sobrevivendo de OºC a 4ºC.

Bagre Africano ou Clarias (Clarias lazarea)

Peixe de couro de origem africana. É extremamente resistente e chega a ganhar uma média de 2,5 kg/ano. Vem se popularizando em viveiros pôr resistir a baixos níveis de oxigenação na água, pois pode sobreviver e deslocar-se, ficando tora da água pôr longos períodos respirando ar atmosférico através de pseudopulmões. Hábito alimentar carnívoro, mas aceita bem o arraçoamento (com farinha de carne ou peixe, vísceras de frangos ou restos de matadouro). Tem carne avermelhada e com pouca gordura, com bom rendimento de filé. Atinge a maturidade sexual com nove meses de idade, mas sua reprodução tem que ser induzida. O Ibama proíbe seu cultivo - e também o do bagre do canal (catfish) em boa parte do território brasileiro. Para cultivar esta espécie, portanto, é fundamental consultar o Instituto na região em que se pretende implantar o cativeiro. 

Curimbatá (Prochilodus scrofa)

Também chamado de curimba, corumbatá, grumatá, curimatá ou curimatá, é um peixe muito conhecido do Rio Grande do Sul até o Nordeste do país. Um peixe de fundo que cresce melhor em viveiros grandes podendo atingir até 800 gramas no primeiro ano. Têm hábito alimentar iliófago, isto é uma espécie de fundo de tanque. No policultivo, onde é utilizado como espécie secundária, sua função é remover o lodo, liberando os gases tóxicos e colocando a matéria orgânica em suspensão, o que ajuda a adubar os tanques. Sua vantagem de cultivo é o uso de pouca ração.

Pacu (Piaractus mesopotamicus)

Peixe rústico, precoce e de carne excelente. Chega a ganhar 1,5 kg/ano. Hábito alimentar onívoro. Vive bem em temperaturas elevadas acima de 25oC. Não suporta mudanças bruscas de temperaturas (3 a 4ºC).

Piauçu (Leporinus piau) e piapara (Leporinus piapara)

Recém introduzidos em criatórios. São peixes esportivos. Ganho de peso satisfatório, cerca de 800 g/ano.

Tambaqui

Hábito alimentar onívoro. Rústico e de excelente carne, apresenta bom crescimento e não suporta frio.

Tambacú

Resultado do cruzamento da fêmea do Tambaqui com o macho do Pacu. Animal rústico que visa reunir as características de maior resistência ao frio do Pacu com a excelente qualidade da carne e bom crescimento do Tambaqui.

Tilápia do Nilo

Entre as várias espécies existentes, esta é a mais utilizada para o cultivo, pôr apresentar um melhor desempenho, principalmente os machos. É um peixe africano muito rústico e com carne saborosa. Possui hábito alimentar planctófago e detritívoro, alimentando-se, em primeiro lugar, do plâncton e em menor proporção de detritos orgânicos, aceita bem rações artificiais. Atinge cerca de 400 gramas a 600 gramas no período de seis a oito meses de cultivo. É também utilizado como peixe forrageiro, servindo de alimento na criação de peixes carnívoros. A maior restrição ao seu cultivo é sua reprodução precoce, a partir de quatro meses de idade, o que gera o superpovoamento de tanques. Este problema pode ser contornado com a utilização apenas de alevinos machos, sexados manualmente ou revertidos através de hormônios sexuais, que são facilmente encontrados em vários fornecedores de alevinos. Para engorda deve-se escolher as Tilápias revertidas sexualmente, pois o macho apresenta o dobro da fêmea. Cresce até 1 kg/ano e pode chegar a 6 Kg de peso. Carne boa para filé. Peso comercial de 500 g além de ser resistente a baixas temperaturas e baixos teores de O2 dissolvidos na água.

Camarão-da-Malásia (Macrobrachium rosembergii)

Espécie adaptada à engorda em cativeiros no Brasil. Cresce bem com temperaturas entre 25ºC e 28ºC, em regiões mais quentes pode apresentar 2 safras/ano. Tamanho comercial médio de 30 gramas, atingindo em 6 meses de cultivo. Em sistema de cultivo de alta tecnologia chega a produtividade de 3000Kg/baiano.

Algumas plantas cultivadas na aqüicultura

Aguapé

Utilizada em ração animal e na lavoura como adubo verde composto ou cobertura para culturas. Fornece excelente produção de biogás e substitui lenha em caldeiras. Na água, controla eficientemente a proliferação de algas e atua como filtro purificando efluentes industriais e de esgotos.

Erva de pato

Rápida proliferação e serve para tratamento de águas alimentação humana e animal, pois contem proteínas e ácidos aminados

Vime

Rústico, pouco exigente. Utilizado para artesanato, produção de celulose, papel, fibras, derivados químicos e artigos do gênero.

Spirulinas

Algas microscópicas que formam agregados e podem ser usadas como alimento.

Anabela azolla

Através da fotossíntese provoca a liberação do hidrogênio da água e também tem a capacidade de fixar o nitrogênio do ar.

BAGRE AFRICANO

 O texto abaixo o Escriba Valdemir leu no site
 http://www.tierramerica.info/nota.php?lang=port&idnews=3154


Reportagem
Peixe invasor e com má fama, mas produtivo
Por Patricia Grogg

O bagre africano encarna em Cuba todos os desafios das espécies exóticas, que, após serem introduzidas em um habitat, se convertem em invasoras.

HAVANA, 18 de maio (Tierramérica).- Conhecido por devorar tudo que cruza seu caminho, e até por morder as pessoas, o bagre africano (Clarias gariepinus) levanta polêmica em Cuba, enquanto, transformado em filé, é degustado nas mesas familiares. A espécie, também conhecida como peixe-gato, foi introduzida em Cuba em 1999 para ser criada em tanques de água doce. Mas as fortes chuvas que caíram em 2001 e 2002 - devido aos ciclones Michelle, Isidoro e Lili - provocaram sua dispersão por todo o país. Desde então, mil histórias alimentam sua má reputação.

Os argumentos contra o bagre africano vão desde ser “muito feio” até aos de que “come qualquer coisa” e assusta, porque pode andar como réptil em terra firme, valendo-se de suas rígidas barbatanas e ondulando seu corpo. A pior e mais séria acusação é a de que acaba com outras espécies, pondo em risco o equilíbrio ecológico. Algo desse tipo teria ocorrido na lagoa da fazenda El Retiro, em Cárdenas, a cerca de 150 quilômetros de Havana, onde não há outros peixes, nem patos ou gansos, desde a chegada do bagre africano. Trabalhadores do lugar culpam a espécie invasora de comerem as crias dessas aves.

“Mas o filé destes peixes é bom. Temos que pensar em como criá-los em abundância nestes espelhos d’água da fazenda. Assim contribuiríamos para maior disponibilidade de alimentos”, disse ao Terramérica Raimundo García, diretor do Centro Cristão de Reflexão e Diálogo, responsável pelo projeto El Retiro. A introdução de espécies exóticas figura entre as principais causas da perda de diversidade biológica em Cuba, além da “débil integração entre as estratégias de conservação e uso sustentável da biodiversidade e das atividades de desenvolvimento econômico”.

Para os ecologistas, o problema não é tanto o fato de o bagre africano ser invasor, mas sim de os mecanismos de regulação e controle nem sempre serem infalíveis, e de o desastre ambiental ser muito difícil de reverter.

As Nações Unidas decidiram dedicar esse 22 de maio, Dia Internacional da Diversidade Biológica, à questão das espécies invasoras, uma ameaça maior à biodiversidade e ao “bem-estar ecológico e econômico da sociedade e do planeta”. Desde o século XVII, estas espécies - animais, vegetais, vírus, bactérias e outros organismos patogênicos - “contribuem com quase 40% da extinção de animais com causa conhecida”, afirma o Convênio sobre a Diversidade Biológica.

Em Cuba, a estratégia oficial para proteger a biodiversidade inclui ações de conservação, reabilitação e restauração de ecossistemas e habitat degradados, avaliação de impacto ambiental, planos de manejo e controle de espécies invasoras vegetais e animais. Em defesa do bagre africano, técnicos do setor pesqueiro alegam que qualquer espécie, diante de um jejum prolongado por falta de alimento, pode surpreender comendo organismos que não fazem parte de sua dieta habitual. “O bagre africano é resistente, sobrevive em condições adversas”, disse a esta jornalista Julio Baisre, assessor ministerial.

“Estudos sobre o conteúdo estomacal desta espécie, as características e posição de sua boca, sua dentição reduzida e o fato de apenas valer-se do tato e do olfato para localizar as presas indicam que se alimenta, em geral, de organismos do fundo das águas”, afirmou Baisre. O assessor considera “exageradas e de segunda mão” as opiniões contra o bagre africano, pois tampouco há “evidências cientificamente fundamentadas” de que alguma das espécies cubanas de água doce tenha se extinguido por causa de outra invasora.

Segundo ele, “provavelmente outros impactos ambientais relacionados com o uso e manejo da água e a destruição de habitat” tenham influenciado mais negativamente sobre essas espécies do que a presença do bagre africano ou de tilápias (gênero Oreochromis). Contudo, faltam “estudos rigorosos” sobre os impactos ambientais de muitas espécies trazidas de fora, reconheceu Baisre. “Quando me perguntam sobre o peixe-gato respondo com outra pergunta: Você conhece alguma espécie que sirva de alimento humano e se converta em uma praga?”, acrescentou.

Outros defensores da introdução do bagre africano na aquicultura argumentam que mais de 65% das espécies de água doce criadas no continente americano não são naturais dessa região, como ocorreu há séculos com a cana-de-açúcar ou o café. “As introduções de peixes acontecem a partir de janelas comparativas com espécies autóctones, como maior crescimento, tecnologia de produção eficiente e econômica, alto valor no mercado externo ou propriedades nutricionais”, assegurou Orestes González, subdiretor da revista Mar e Pesca.

O peixe-gato é conhecido e aceito na mesa cubana e figura com certa frequência na rede comercial de produtos do mar em moeda nacional. Cuba tenta desenvolver a aquicultura de maneira intensiva. Dionis Cruz, vendedor de uma peixaria da capital, onde um quilo de filé de bagre africano custa o equivalente a US$ 1,5, assegura que é muito procurado. “Vende muito rápido. Recebo 200 quilos que acabam em dois dias”, afirmou. Especialistas concordam que a criação de espécies de água doce é uma “necessidade mundial”, pois a pesca marítima chegou ao seu limite há anos. O cultivo de bagre africano não é uma descoberta cubana, sendo explorado em mais de 30 países, afirmam.

Em 2008, a aquicultura cubana produziu mais de 30 mil toneladas de pescado, entre tinca (Tinca tinca), tilápia, bagre africano e outras espécies, boa parte em tanques explorados ao máximo, onde os peixes alimentam-se de plâncton natural. Nos últimos anos, foi incentivada a criação intensiva de tilápias em jaulas flutuantes e de peixe-gato em tanques de terra ou cimento. Segundo Baisre, esta aquicultura é sustentável e faz parte da estratégia nacional de segurança alimentar. O método intensivo permite que, por meio da alimentação, seja controlado o número de exemplares que podem ser mantidos em um determinado lugar.

Graças a um projeto financiado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), a aquicultura cubana conta com ração crioula, o que barateia os custos. O alimento elaborado no Centro de Preparação de Aquicultura Mampostón, em San José de Las Lajas, a cerca de 30 quilômetros da capital, se baseia nos próprios subprodutos do bagre africano, aos quais são adicionadas farinhas de soja, de trigo ou farelo. “A idéia é substituir a importação de farinha de pescado”, disse Mirtha Vinjoy, subdiretora do Centro.
* Este artigo é parte de uma série produzida pela IPS (Inter Press Service) e pela IFEJ (Federação Internacional de Jornalistas Ambientais) para a Aliança de Comunicadores para o Desenvolvimento Sustentável (www.complusalliance.org).